Precisamos de consciência em prol das vidas pretas
19 de novembro de 2020, poucas horas antes do Dia da Consciência Negra, João Alberto Ferreira Freitas, de 40 anos, um homem preto foi assassinado dentro do Carrefour Brasil, em Porto Alegre! O assassinato, não morte, assassinato desencadeou uma onda de manifestações em lojas da rede de hipermercados de todo o país. Nos manifestamos pacificamente, tentamos políticas públicas, leis, mas nossos jovens pretos continuam sendo assassinados aos lotes: Um jovem preto a cada 27 minutos em todo o Brasil, o país no mundo com o maior índice de pretos fora de África, cerca de 27%

Quando dizemos e batemos na tecla que vidas negras importam é para que casos como este não sejam normalizados! Bolsonaristas defendem que o homem já teria sido preso por violência doméstica, que teria desferido um soco em um dos seguranças! Nada justifica essa selvageria, nada, nunca, em hipótese alguma, mas se eu fosse jogar o jogo dos bolsonaristas, questionaria o que o segurança disse para este homem para que ele desferisse um soco nele?
Ao saber do caso, me lembrei dos momentos em que temi por ser preta, ali, sozinha, em Porto Alegre. Tinha ido a um congresso, sozinha. Fui encarada na rua, xingada no ônibus, quis responder e contra-atacar, como faria em qualquer lugar do país, mas estava ali, sozinha, em um lugar com predominância branca, europeia. Mais tarde, uma amiga preta que fiz lá disse que fiz bem em não revidar, pois ali vivia-se "um aphartaid velado" e não noticiado e que ali havia inclusive bairros em que só moravam pretos, por causa do racismo estrutural velado que assolava a cidade, mas isso a mídia não falava. Senti medo, pânico, pavor de estar em Porto Alegre, já fui para o interior do Rio Grande do Sul e não senti o medo que senti em Porto Alegre.
Nessa semana, várias outras pessoas pretas foram assassinadas, a maioria mulheres, incluindo uma prefeita recém-eleita, em Marajó! Precisamos parar com essa história de consciência humana, enquanto desumanizam vidas pretas.
Em nota, o Carrefour informou que "adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João para dar o suporte necessário."