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Governo brasileiro adota cultura do ódio

O líder comunitário Gabriel Rumba emitiu uma carta aberta afirmando que o governo brasileiro tem como prática a cultura do ódio e da mentira. A carta do Rumba rebate o documento elaborado pelo Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos e pelo Ministério da Justiça do Rio de Janeiro que fala em “cultura da paz entre policiais no combate ao crime”.

O documento do governo foi elaborado em resposta à denúncia feita por relatores da ONU da chacina na favela do Jacarezinho, no dia 06 de maio deste ano. A manifestação do líder comunitário Rumba vem se somar à indignação de diversas entidades de direitos humanos do Brasil reagindo às afirmações do governo, alertando para a violência policial dos últimos anos no país.

Em sua carta, Rumba narra as cenas dramáticas que presenciou na favela e a sua iniciativa de socorrer as vítimas convocando para o local as comissões de direitos humanos da OAB e da ALERJ, além da Defensoria Pública do Estado do Rio. Da mesma forma que fez a perícia do local, Rumba afirma que em muitas situações em que jovens foram mortos pelos policiais, não houve troca de tiros com as vítimas.

CARTA ABERTA PARA A ONU
Meu nome é Antônio Carlos Ferreira Gabriel, nascido há 67 anos, na favela do Jacarezinho território que concentra o maior número de negros em favela no Rio de Janeiro. O motivo desta Carta é a minha indignação ao ler o documento do governo brasileiro em carta aos relatores da ONU (Organização das Nações Unidas), em que alega adotar a promoção da cultura da paz entre policiais no combate contra o crime e garante uma postura na inclusão de treinamento em direitos humanos.
Isso não é verdade. Este governo adota como prática a cultura do ódio e da mentira. Digo isto, porque na manhã do dia 6 de maio de 2021, às 5:30, a Polícia Civil invadiu a favela do Jacarezinho com o pretexto de cumprir 21 mandados de prisão a suspeitos de aliciar menores para o tráfico de drogas da favela. Já acostumado com estas operações, percebi que estava acontecendo algo diferente, pois as imagens que chegavam ao meu celular mostravam cenas de terror. Entre as dezenas de imagens que me chegavam uma era de um rapaz que sofria de epilepsia, que, depois de assassinado, teve o seu corpo vilipendiado, com o dedo na boca, colocado sentado em uma cadeira no beco.
Resolvi então ir ao encontro do local do evento, mas tomando todo cuidado para não ser morto no caminho. Convoquei as Comissões da OAB (Ordem dos advogados do Brasil) Comissão da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e a Defensoria Pública. Aborrecidos com a nossa chegada, os policiais começaram então a desmanchar os locais dos crimes obrigando os moradores a lavarem as inúmeras manchas de sangue e a carregar corpos, alguns com as vísceras de fora, que eram jogados nas viaturas blindadas conhecidas como Caveirões. Com a nossa chegada, me dirigi a três residências onde retirei cerca de trinta jovens desarmados e com certeza já prontos a serem executados.
Ainda restou uma pergunta a ser respondida. Se eram todos bandidos, então onde se encontram as armas desses trinta jovens que, com a nossa chegada, foram salvos da chacina? Os policiais afirmaram em depoimentos que houve um intenso tiroteio neste confronto, mas um dos agentes, oito dias após a chacina, deu outra versão sobre as mortes confirmando o laudo da perícia no local atestando que não houve confronto.
Conclui-se que essa tal cultura da paz e treinamento de direitos humanos dedicadas aos policiais é mais uma falácia deste governo. A operação chamada de “Exceptis” culminou com 28 mortos. O vice-presidente da República ao reagir as repercussões desta operação desastrosa, afirmou que eram todos bandidos mesmo sem ter provas, mas parece que ele esquece que no nosso ordenamento jurídico não existe a pena de morte. Esta afirmação só serve para provar que estamos diante de um governo com a prática do ódio, em desacordo com o processo democrático.
Por todo o exposto peço que esta Carta possa alcançar o nosso STJ e a ONU.
P.S.: Sou conhecido como Gabriel Rumba, Jornalista, teólogo, Bacharel em Direito, fundador do Movimento Popular de Favelas e PortalFavelas.


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