“Afirmamos que cada operação policial, a cada jovem negro e pobre assassinado em nossas favelas do Rio de Janeiro, deveriam paralisar a cidade em protesto. A cada operação é menos um dia em nossa favela. Queremos ter nosso cotidiano respeitado!” Este é um trecho da carta divulgada por comunicadores populares da Maré a respeito da ação policial que deixou mortos e feridos, casas invadidas e moradores revoltados numa das maiores favelas do Rio de Janeiro, o Complexo da Maré.
Mais uma vez, o governo do estado faz uma espetaculosa ação policial, curiosamente às vésperas do primeiro turno das eleições no país. Foi na madrugada desta segunda feira que policiais invadiram a favela, interromperam um baile funk e, segundo o relato de moradores, agrediram indiscriminadamente a todos e todas. Relatos como este foram feitos ao Ouvidor Geral da Defensoria Pública, Guilherme Pimentel, que considerou a ação inaceitável.Foi uma ação com cerca de 120 policiais e apoio de helicópteros e blindados.
Desde as primeiras horas da manhã, o Ouvidor Geral começou a receber dezenas de denúncias da violência praticada pelos policiais. Ouvido pelo Portal favelas, o Ouvidor geral disse que acionou o Ministério Público (órgão responsável pelo controle externo da atividade policial) solicitando imediatas providências. Para o Ouvidor, nada justifica esta operação ter o descumprimento da determinação do Supremo Tribunal Federal que pela ADPF 635 – uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) que impõe restrições à realização de operações policiais nas comunidades do Estado do Rio de Janeiro durante o período da pandemia. Qualquer ação neste sentido tem que ser comunicada, com a respectiva justificativa da excepcionalidade da medida ao Ministério Público.

Até o início da noite desta segunda-feira, a Ouvidoria não tinha resposta do MP. A situação é considerada muito grave pelo grande número de denúncias de de invasão de domicílios, depredação de carro e pertence de moradores, sumiço de bens de pessoas, agressões, além das mortes. Guilherme Pimentel disse que a Ouvidoria está à disposição dos moradores para o acolhimento de todas as pessoas e o atendimento tanto jurídico quanto psicossocial, integrado a outras instituições que possam prestas este serviço.
A nota dos comunicadores é muito contundente e aponta as irregularidades cometidas pela polícia. Naquele momento, tinham sido registradas duas mortes. Mais tarde, foi constadada a existência de 5 mortes na operação policial. Eis a nota dos comunicadores populares:
Operação policial na Maré ameaça moradores
Cotidiano mareense impactado por uma operação, mas é a paralisação da linha vermelha e amarela que incomoda o restante da cidade?
Coletivo de comunicadoras e comunicadores da Maré
Desde às 5h da manhã desta segunda, dia 26 de setembro, moradores e moradoras da Maré relatam violações que estão sofrendo por causa de mais uma operação policial. As favelas são: Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Fogo Cruzado, Vila do Pinheiro, Vila do João, Salsa e Merengue.
A operação está sendo coordenada pelas polícias Civil e Militar mobilizando as forças especiais BOPE, CORE e BAC com uso de helicópteros e carros terrestres blindados da polícia, os chamados caveirões. A alegação é de que os 120 homens das forças policiais entraram para impedir investidas de uma facção contra outra.
Pelas redes sociais, moradores relatam que duas pessoas foram assassinadas e outras se encontram feridas. Até o momento, há relatos de que os policiais invadiram o baile funk, revistaram moradores e mandaram correr e, também, bateram em algumas pessoas. O tumulto também causou ferimentos. Neste momento, há invasão às casas, inúmeros carros estão sendo quebrados, além de tiroteios em muitas das ruas a todo momento.
Assim, como é o cotidiano da favela em dias de operações como estas, escolas, postos de saúde, o comércio e tantos outros serviços da favela estão parados. Muitos moradores não conseguiram sair para o trabalho ou para os seus outros compromissos pessoais. Internet e luz acabaram tendo seus serviços prejudicados em algumas áreas também.
Logo cedo, pela TV, o que vimos é que a Linha Vermelha e a Linha Amarela também ficaram fechadas. Ou seja, a operação policial que neste momento impacta diretamente a vida de cada morador e moradora da Maré não é o mais importante, mas sim o incômodo e a paralisação da cidade.
Afirmamos que cada operação policial, a cada jovem negro e pobre assassinado em nossas favelas do Rio de Janeiro, deveriam paralisar a cidade em protesto. A cada operação é menos um dia em nossa favela. Queremos ter nosso cotidiano respeitado!