"Barbáries perdidas"?
autores: Adair Rocha e Pedro Geiger

Kathleen de Oliveira Romeu, sua filha ou filho, e um número infindável de pessoas, crianças e jovens em sua maioria, territorializados em favelas e subúrbios, são os alvos preferenciais das chamadas "balas perdidas", naturalizados como "territórios de guerra" (econômica).
Na verdade, são balas endereçadas pelo Estado, que seria responsável pela regulação do bem estar público e coletivo, com referências, portanto, na defesa da individualidade, que aglomerada, é geradora da expressão cidade, inspirada em cidadania, nas primeiras polis.
O papel do Estado, em suas diferentes origens, não é o de promover a "guerra", absolutamente, desigual, diante da abissal distância entre acesso e direitos, quando um terço da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, vive em favelas.
Não se trata, portanto, de atribuir à polícia a causa e os sintomas da barbárie. A polícia cumpre um papel, que aparece como central, quando o governo é autoritário ou fascista.
A questão econômica ganha centralidade, na medida em que a venda de drogas é ilegal e seu varejo fica localizado na favela, na ilegalidade da cidade e a milícia quer esse controle, como vem ocorrendo.
A sociedade tem que se posicionar sobre a natureza desse consumo, também legalizado, ou a continuidade descontrolada do risco estabelecido sobre os territórios empobrecidos.
Qualquer medida institucional será respeitada se estiver sustentada na defesa da população cidadã, onde a questão da segurança não se reduz à polícia, mas ao acesso a que tem direito.
Assim, as expressões “chacina, balas perdidas, barbárie”, não podem se justificar no imaginário: "bandido bom é bandido morto”, mas quando todo trabalhador, independente de gênero, etnia, crença, ou ideologia, for respeitado da mesma forma.
Isso tem nome e endereço: democracia e cidadania, na multicentralidade da cidade e da sociedade!
Adair Rocha
Professor da PUC-Rio e da UERJ e
Pedro Geiger
Geógrafo e Professor da UERJ