25 DE MAIO – DIA DA ÁFRICA
Mas, por que o Brasil comemora o dia da África? Qual a necessidade de se dedicar um dia a um outro continente, tão distante do nosso? Sim, infelizmente, ainda nos deparamos com a desinformação, a falta de conhecimento funcional e o racismo estrutural.
Aqui no Brasil, a cultura negra oriunda da África, ainda é vista por muitas pessoas, através de uma ótica colonialista europeia e tendo como grande apoiadora a Igreja Católica. Muitos de nós, brasileiros, vemos esta relação entre o país e aquele continente, apenas como algo que tem como vínculo, somente o fato da escravidão promovida pelos portugueses. Não, brasileiro! Não se resume à chibatadas, fugas, quilombos e uma “abolição” fajuta! Os laços entre os países africanos e o Brasil, ultrapassam estas fronteiras e traz para cá, além de força de trabalho, a cultura, a culinária, a ginga, a fé e, em fim, a mistura de raças, sem a qual este pais não seria o mais poliétnico deste mundo.
Você pode imaginar uma sexta-feira sem uma feijoada? Ou um Brasil que não bate tambores, nas passarelas do samba, nos terreiros e até nos estádios e arquibancadas daqui? Pode imaginar o Brasil sem os mais lindos sorrisos, as mais belas vozes e os dribles mais desconsertantes? Se não imagina, então saiba: Só temos isso tudo por aqui, graças à mãe África.
É claro, que também não se resume apenas ao lazer, à diversão e a alegria impressionante, que só a descendência africana, dá ao brasileiro. Também temos nossos mártires e nossos martírios! Ainda vemos nosso sangue ser derramado a troco do prazer sádico e racista, de jornalismos pé-de-chinelo, que entendem que só quando o sangue preto e favelado escorre, sua audiência aumenta e sua conta bancária se enche de zeros. E aí, brasileiro, fico pensando: “Marielle, Zumbi, Dandara, Ganga Zumba... Tantos... Todos e todas, filhos e filhas da África, que morreram pela mão racista, mas, que renascem como árvores frondosas, que deram e seguirão dando frutos de luta.”. Uma luta covarde, onde os racistas combinaram de nos matar, mas, combinamos de resistir e não morrer! Estaremos aqui, de pé e prontos para resistir, seja como for.
É verdade, que vemos descendentes que, ainda sem saber o que significam ou implorando o olhar piedoso de colonialistas, praticam o racismo contra nossos próprios irmãos e irmãs, sendo capazes de tentar destruí-los, para sentirem-se mais próximos daqueles que, por pura inveja, nos odeiam e por isso, não nos querem em altos cargos nas suas empresas, nas “suas” universidades, nos “seus” aeroportos e menos ainda, em “seus” governos, a menos, que mostremos desprezo pela cor, a raça e a cultura africana, radicada aqui no Brasil.
Brasileiro, acredite: Tudo isso, sob os auspícios de uma Igreja, que nos apresenta a um salvador branco, de cabelos e barba longos e lisos e olhos claros, ignorando sua origem no médio oriente, em Belém da Judéia, hoje, um território ocupado, na Cisjordânia, onde este fenótipo apresentado pela Igreja Católica seria visto como uma anomalia. Mas, não! A Igreja insiste em um padrão europeu e se recusa a aceitar a negritude do Filho de Deus e isso, influenciou culturalmente, de forma negativa, que as pretas e pretos brasileiros, respeitem a religião de matriz africana, aqui por nossas terras, tratando sua própria cultura, como algo sujo, feio e negativo, digno de intolerância e desprezo. E isso, desde a primeira infância.
Em fim, vou ficando por aqui, nesta reflexão do 25 de maio, já que se fosse falar de tudo, teria que escrever um livro bem extenso, que teria que ser fruto de uma longa pesquisa e muita emoção. Mas, espero ter te respondido, brasileiro, “Por que o Brasil comemora o dia da África?” e “Qual a necessidade de se dedicar um dia a um outro continente, tão distante do nosso?”, até porque Brasil e África, no fundo, tem muito mais de semelhanças e amizade, do que possam imaginar os racistas e os ignorantes, o que nos faz, brasileiros, quase que mais uma nação integrante do continente-origem de toda a humanidade.
E aí, brasileiro, a África merece ou não merece ao menos um dia de homenagens de nossa parte?
Raimundo Carrapa
MNU Favelas Vila Kennedy – Rio de Janeiro/RJ