Atualizado: 24 de jan. de 2022
Uma história de luta e de liberdade
O dia primeiro de janeiro é o Dia Mundial da Paz de da Fraternidade Universal. Mas também é o dia em que se celebra uma das festas mais bonitas do sincretismo religioso brasileiro. É o dia da Congada de Ticumbi, que, desde o período da escravidão é representada em canto e verso no país, especialmente no norte do Espírito Santo.
Esta congada conta a saga do líder negro Benedito Caravelas ou Benedito “Meia-Legua”, que viveu até 1885 lutando contra a escravidão e o racismo.
Este personagem desconhecido da nossa história oficial, assombrou os escravagistas, nasceu em São Mateus, no Espírito Santo e que andava sempre com uma imagem de São Benedito consigo, que ganhou um significado mágico depois.
No dia primeiro de janeiro o cortejo vai buscar a pequena imagem de São Benedito do Córrego das Piabas e levar até a igreja em uma encenação dramática para celebrar a história de “Meia-Légua.
SERÁ O BENEDITO?

Há várias versões para a expressão Será o Benedito?, mas a versão mais heroica remete ao mito do negro Benedito “Mei-Legua”. Ele reunia grupos de outros pretos insurgentes e botava o terror nos fazendeiros escravagistas da região, invadindo as Senzalas, libertando outros negros, saqueando e dando verdadeiros prejuízos aos racistas.
Contam que ele era um estrategista ousado e criativo, criava grupos pequenos para evitar grandes capturas e atacavam fazendas diferentes simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se vestia exatamente como ele.
Sempre que um tinha o infortúnio de ser capturado, Benedito reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a crer que ele era Imortal. E sempre que haviam notícias de escravos se rebelando vinha a pergunta "Mas será o Benedito?"
O mito ganhou força após uma captura dramática. Benedito chegou a São Mateus (ES) amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão do mato montado a cavalo. Foi dado como morto e levado ao cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito.
Noutro dia, quando foram dar conta do corpo, ele havia sumido e apenas pegadas de sangue se esticavam no chão. Surgiu a lenda que ele era protegido pelo próprio São Benedito. Por mais de 40 anos ele e seu Quilombo, mais do que resistiram, golpearam o sistema escravocrata.
Meia-Légua só foi morto na sua velhice, manco e doente. Ele dormia em um tronco oco de árvore. Esconderijo que foi denunciado por um caçador. Seus perseguidores ficaram a espreita, esperando Benedito se recolher. Tamparam o tronco e atearam fogo.
Seu legado é um rastro de coragem, fé, ousadia e força para lutar pelo nosso povo, que ainda hoje é representado em encenações de Congada e Ticumbi pelo Brasil. Em meio as cinzas encontraram sua pequena imagem de São Benedito.
CONGADA
A congada é uma tradição iniciada pelos africanos escravizados que vieram forçados para o Brasil muito tempo atrás. Pelos registros históricos, começou no Recife, no século 17. Depois, ganhou outros estados. Chegou a Minas Gerais entre os séculos 18 e 19, e se tornou uma importante celebração neste estado que registrou o maior número de escravizados do Brasil.
A congada ou congado é uma manifestação cultural e religiosa afro-brasileira. Folguedo muito antigo, constitui-se em um bailado dramático com canto e música que recria a coroação de um rei do Congo. Os negros escravizados recriavam estas festas para enaltecer a sua raça e utilizar como instrumento de luta.
Realizada anualmente, a manifestação cultural Congada tem por objetivo principal louvar seus santos protetores, os “santos dos pretos”, como São Benedito, Santa Ifigênia e Nossa Senhora do Rosário”.São Benedito também era conhecido por seus milagres, inclusive em relação à saúde de seus fiéis. No sincretismo, o santo é representado na Umbanda por Ossain, o orixá da cura, um Orixá feiticeiro que utiliza o poder da natureza para a cura.
As congadas, também conhecidas como congados ou reinados, vão além de Minas Gerais. Acontecem também nos estados de Goiás, São Paulo, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
FONTE PRIMÁRIA -: Twitter Alê santos em junho de 2018